Olá! Se você tem apenas um minuto, aqui está o que os investidores, operadores e fundadores devem saber sobre os rebeldes do Venture Capital:


  • Venture Capital é um agrupamento de diferentes serviços: capital, aconselhamento, governança e marketing
  • Paradigm: o fundo que opera como uma empresa
  • Tiny Capital: a empresa que investe onde ninguém olha
  • Alguns fundos também são empresas de mídia
  • Existem aqueles que atuam de forma “calma”, ganhando apenas nos earnings
  • Fundos proprietários como Homebrew e IGSB se diferenciam pela flexibilidade
  • CVCs devem procurar uma identidade própria

Na semana passada escrevi sobre os Problema do venture capital. Caso não tenha lido, recomendo, pois esse texto é uma continuação. Gostei das reações. De um lado ouvi de empreendedores que concordaram que o modelo atual de VC é rígido. De outro, uma certa curiosidade sobre o que significa ser um “disruptor”. Sendo assim, comecemos pela definição:

Um disruptor é “qualquer fundo ou investidor que está mudando de forma significativa os parâmetros tradicionais de investimento em venture, sejam estes internos ou externos, de forma a criar uma oferta diferente que aumente as chances de sucesso das empresas em que investe”.

Antes dos exemplos, vale aqui um comentário. Eu adoro investir em empresas de tecnologia e trabalhar com empreendedores nos mais diferentes problemas. Existem pessoas que odeiam os VCs e acham que precisa mudar “tudo que está ai”. Eu não sou uma delas.

Também existem pessoas que acham que alguns VCs precisam de um “reality check”, especialmente quando se auto denominam os protagonistas do movimento de inovação da sociedade. Estas pessoas também dizem que os VCs precisam se modernizar, dado que operam com regras e costumes antiquados. Eu sou uma dessas pessoas.

Muitos acreditam que disrupção acontece por causa de uma nova tecnologia. Na verdade, ela acontece por causa de clientes insatisfeitos e começa quando passa a existir uma nova forma de fazer algo.

Se Venture Capital é um comércio em que o empreendedor vende risco e o investidor compra este risco, o que temos hoje é apenas um tipo de risco sendo negociado, o da “startup fundada por dois jovens homens que estudaram numa universidade top de linha e com uma idéia para dominar um mercado em um período de 6 a 8 anos e fazer IPO na Nasdaq”. Para este tipo de empresa, sobra dinheiro, pro restante, falta.

Proposta de Valor

Venture Capital é um agrupamento de várias atividades:

Ao acessar VC o empreendedor consegue de uma vez só capital, aconselhamento, governança e marketing, cada um em diferentes graus, de acordo com o fundo. Este framework ajuda a entender melhor os Disruptores.

Paradigm: operando como uma empresa

O negócio de gestão de recursos em geral tem uma gestão de pessoas preguiçosa. O motivo disso é que o profissional que faz gestão de investimentos, na média, não deriva prazer ou satisfação em gerir pessoas. O que ele gosta é de gerir capital. Isso faz com que as poucas empresas consideradas muito bem geridas (ex: Blackrock, Vanguard, Blackstone) sejam admiradas pelo mercado todo. Estou numa empresa bem gerida e vejo como é uma vantagem competitiva.

No caso dos fundos de VC, a maioria opera numa estrutura chamada de partnership, oriunda dos escritórios de advocacia. O resultado dela é uma divisão em três castas de profissionais: (1) managing partners, detentores de todo o poder; (2) profissionais de investimento, aspirantes a categoria (1); (3) profissionais de outras áreas.

É interessante notar que os profissionais das outras área, são aqueles usados como chamariz do que existe de mais moderno em aconselhamento às empresas de portfólio. Estamos falando dos cientistas de dados, pesquisadores, marketeiros, recrutadores, dentre outros. Isso não impede que estes sejam tratados como cidadãos de terceira classe. Infelizmente esse tipo de dinâmica é recorrente na indústria. Não estou me referindo a fundo A, B ou C, é um comentário geral.

Isso obviamente cria problemas, pois não necessariamente o investidor sabe fazer o trabalho das outras áreas. Será que uma pessoa com background apenas de investimento é a melhor pessoa para gerir um recrutador?

O Paradigm é uma gestora focada em blockchains fundada pelo co-fundador da Coinbase, Fred Ehrsam e Matt Huang, ex-sócio da Sequoia Capital. O fundo tem uma estrutura organizacional que se assemelha muito mais a de uma empresa do que de um fundo tradicional. Isso inclui CTO, CFO, COO, Chefe de Pesquisa, CHO, todos com equipes abaixo semelhante ao tamanho da equipe de investimentos. Não existe diferença de prestígio entre estes times. Todos desenvolvem produtos para as empresas de portfólio. Sendo assim, mesmo sendo uma empresa jovem, o Paradigm tem a melhor reputação entre os empreendedores crypto. O valor agregado para os empreendedores é algo palpável.

Tiny Capital: investindo onde ninguém olha

Eu adoro este caso. O Tiny Capital é uma gestora que opera apenas capital proprietário dos seus dois fundadores. A primeira coisa boa disso é que não precisam se preocupar com prazo de saída, de forma que eles compram empresas sem necessariamente a intenção de vender. A segunda é que podem investir no que quiserem.

O Tiny compra participações majoritárias (as vezes 100%) em negócios de Internet que tem mercados de tamanho médio, mas alta defensibilidade. O fundo também incuba novas empresas, nas quais detém maioria. O respeito com que o tratam as empresas compradas faz com que tenham ótima reputação entre fundadores que querem fazer um exit completo do negócio. O Tiny faz a due diligence rápido, não enrola o empreendedor e tem termos simples, sem engenharia financeira. Em geral os negócios que compra são geradores de caixa e andam sozinhos.

O que é legal é que o fundo vai atrás de empresas que os VCs desprezam, os chamados “lifestyle businesses”, mas que conseguem crescer ano a ano de forma saudável e ainda pagam dividendos. Ele também pode tomar riscos não-obvios aos VCs, como investir em empresas que vendem para o governo, ou negócios que são concentrados em poucos clientes ou possuem risco de plataforma (ex: 100% da receita oriunda de Whatsapp).

Um co-fundador do Tiny diz que uma forma de geração de valor é a chamada “Arbitragem do chato”. O ponto dele é que os VCs gostam de negócios sexys, de forma que a maioria orbita para as mesmas empresas. No caso do Tiny, eles não tem problema em comprar uma empresa que tenha um negócio chato, contanto que seja bom. Isso permite a eles comprar a um valuation mais baixo.

Comparação do Tiny com outras alternativas

Este fundo não está sozinho nesse modelo, existem outros que operam de forma semelhante, com algumas diferenças. Este tipo de investimento é chamado de “Micro-Private Equity”.

Mídia ou Investimentos? Os dois!

Patrick O’Shaughnessy tem o melhor podcast sobre investimentos do mundo, o Invest Like the Best. Ele transformou seu show em uma empresa de venture capital e uma de mídia. Mário Gabriele e Packy Mccormick construíram fundos em paralelo com suas newsletters. Harry Stebbings fez o mesmo, mas com seu podcast, o 20VC.

O que estes investidores conseguem trazer de diferente da maioria é uma atenção da sua base de leitores. Ao ler o que o Mário Gabriele escreve, vamos aprendendo como pensa. Quando ele recomenda um investimento, sentimos que entendemos melhor o racional, além do nome da empresa chegar para além de 60.000 assinantes qualificados – o bsb esta com mais 11.000, um dia chego nesse número 👊🏻

O Investidor Calmo

O Calm Company Fund é uma gestora que investe em empresas de software early-stage. Existem duas diferenças dos fundos tradicionais:

  1. O Calm usa uma estrutura chamada de Shared Earnings Agreement, em que o investidor ao aportar capital na empresa, passa a ter direito a um % dos earnings da companhia. É um investimento equivalente ao equity, mas em que uma parte dos ganhos vem de dividendos e uma parte pode vir da venda da companhia, mas não necessariamente. Esse acordo alinha os incentivos dos investidores e fundadores nos mais diferentes cenários, dando aos fundadores total controle dos seus negócios.
  2. Foco em empresas que não arriscam sua sobrevivência pelo crescimento. Como regra base, enquanto um fundo de VC investe querendo um 10x, o Calm investe mirando um 3x. O menor retorno é compensado pelos poucos casos de empresa que quebra e vai a zero.

O Calm é um bom parceiro para empresas que tem menor retorno e preferem focar na sustentabilidade financeira, enquanto remuneram seus acionistas.

Donos do dinheiro: Homebrew e IGSB

Você sabia que na maioria dos fundos de VC, de 100% do capital no fundo, apenas 2% vem do gestor? O que você provavelmente não sabia é que esse número de 2% do total comprometido tem relação com o valor mínimo que o gestor precisa colocar num fundo americano para que seus ganhos de taxa de performance sejam tratados como ganhos de capital e tenham taxação mais baixa. Sim, caros leitores, nos EUA também tem muito lobby de indústria por beneficio fiscal e esta aqui é uma das maiores aberrações tributárias que já vi. O valor de 2% então virou moda e cá estamos, anos depois, em um país diferente. 🤷🏻‍♂️

O Homebrew era uma gestora tradicional e muito bem sucedida. Quando foram captar seu quarto fundo os dois fundadores decidiram que iriam investir apenas seu próprio dinheiro. A idéia é que o fundo tenha capital permanente e possa investir no que eles quiserem. Um mandato tão aberto assim não é comum de encontrar pois a maioria dos fundos precisa se enquadrar em alguma definição: early-stage, venture, growth, Pre-IPO, etc. O Homebrew quer investir em qualquer estágio e para fazer isso, é melhor que seja com seu próprio dinheiro. Flexibilidade total.

Estratégia semelhante foi adotada pelo Investment Group of Santa Barbara. Fundado por dois colegas do Stanford MBA, a empresa começou pequena, investindo apenas em ações listadas. Com muitas boas tacadas, hoje administra bilhões de dólares de seus fundadores. Um aspecto diferente de sua estratégia é que podem incubar empresas, sendo uma das mais famosas dessas a Appfolio, que hoje vale US$ 4 bilhões na Nasdaq e está se tornando o sistema operacional do real estate americano. O fundo também opera de forma bem concentrada, adotando um misto de estratégia entre Warren Buffet (analise fundamentalista e concentração) com venture capital (foco em tecnologia, investir early-stage). Tem um ótimo twitter tread que cobre a empresa aqui.

Outros modelos

O fato que o texto ficou curto para os diferentes modelos me deixa animado com o crescimento da diversidade de atuação no Venture Capital tradicional. Alguns outros modelos que gosto:

  • Solo GPs: são fundos geridos apenas por uma pessoa
  • Revenue Based Financing: dívida cujo pagamento varia de acordo com a receita da companhia, alinhando o acionistas e credor
  • Fundo “Agencia de Talento”: Link

Mas para terminar o texto, quero falar sobre o Corporate Venture Capital, o CVC.

Um comentário sobre CVC

Para mim, toda empresa é um agregado de capital. Parte esta investido em ativos de longo prazo, outros de curto prazo, alguns intangíveis. Sendo assim, é fundamental que um gestor desenvolva a capacidade de alocar recursos. Algumas empresas são mais ou menos rígidas sobre suas politicas de investimento, mas é impossível negar que se “software está comendo o mundo”, ter a habilidade e o expertise para investir um percentual do capital em tecnologia faz sentido.

A provocação que faço para as companhias é que deixem de querer copiar o modus operandi de fundos de venture capital e busquem um modelo próprio. Montar uma equipe completamente apartada, que não esta imersa na cultura e processos da empresa, não me parece a forma mais adequada de vencer no mundo de investimentos em tecnologia. Quem apenas copia, será preterido pelo original.

O diferencial de uma companhia são os seus ativos únicos. Isso pode ser sua cultura, time, canal de distribuição, produto, marca, propriedade ou outro. Provavelmente um misto de todas as anteriores. Eu sou um grande fã de Corporate Venture Capital e a ideia de empresas alavancarem tecnologia nos seus negócios. Muitas oportunidades em que a chance de ganha-ganha é enorme. Se você é um empreendedor que pensa que um CVC é um investidor de “segunda categoria”, pois não tem histórico, é você quem está perdendo.


O objetivo desse texto não é criticar, mas sim mostrar que não existe apenas um único caminho. Diversidade de pensamento e ação é muito bom para o nosso ecossistema empreendedor.

Grande abraço,

Edu

DISCLAIMER: essa newsletter não é recomendação de investimentos. Seu propósito é puramente de entretenimento e não constitui aconselhamento financeiro ou solicitação para comprar ou vender qualquer ativo. Faça a sua própria pesquisa. Todas as opiniões e visões são pessoais do próprio autor e não constituem a visão institucional de nenhuma empresa da qual ele seja sócio, colaborador ou investidor.