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Oi pessoal 👋! No final do ano passado escrevi um artigo sobre 2022. Depois de um 2021 exuberante, o ano seguinte foi de ajustes. As ações listadas de tecnologia tiveram performance negativa, a liquidez diminuiu para o mercado como um todo, demissões em massa em startups e grandes empresas e Crypto quase colapsou com os casos de FTX e Luna. Hoje vou analisar o ano que esta quase acabando.

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Se tiver apenas um minuto, segue o resumo do texto:


  • Os volumes de investimentos vêm diminuindo e o número de startups falindo aumentando.

  • Fundos de Tecnologia estão captando menos e ajustando suas estratégias.

  • A geopolítica está motivando diversos movimentos de fundos e empresas.

  • Apesar do rearranjo de expectativas, as perspectivas de médio e longo prazo para tecnologia continuam positivas.


DISCLAIMER: Todas as opiniões e visões são pessoais do próprio autor e não constituem a visão institucional de nenhuma empresa da qual ele seja sócio, colaborador ou investidor.

Continuação de 2022

No livro “Sobre a Morte e o Morrer”, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross lista os cinco estágios do luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Fonte: “Sobre a Morte e Morrer”

 

2022 foi um ano de negação e raiva para empreendedores, trabalhadores e investidores de tecnologia. 2023 está terminando como um misto de negociação e depressão. Acredito que ainda não chegamos na fase de aceitação da nova realidade.

Esse ano viu a confluência de uma mudança na geopolítica global, com o aumento da tensão entre Estados Unidos e China, a subida das taxas de juros americana, o aumento da inflação pelo mundo todo e em paralelo duas guerras, na Ucrânia e no Oriente Médio. Um cenário desafiador.

Menos Investimentos

Eu não gosto que certos analistas fazem de tudo para apresentar dados ligados à startups de forma positiva. A verdade é que os volumes continuam caindo. O mercado americano possui mais dados, vou usá-lo como referência:

No total, as startups americanas captaram US$126bi nos primeiros três trimestres de 2023, de acordo com dados do PitchBook. Esta é uma queda anual expressiva, de 37%.

Fonte: PitchBook

 

O terceiro trimestre também foi o período com o menor volume de captação de recursos desde o início de 2018. O que isso quer dizer é que a o setor ainda esta desacelerando.

20% das transações foram “down rounds”, ou seja, feitas a um valor menor que o da última rodada. Considerando que Venture Capital opera via estrutura de ações preferenciais, qualquer “down round” tem um impacto significativo para os empreendedores e colaboradores das companhias. Para comparação, esse número foi de apenas 6.5% em 2021.

Sobre o mercado de IPOs, tivemos pouquíssimas operações, com destaque para ARM, com volume próximo de US$5bi, tendo à favor o vento da Inteligência Artificial. As outras ofertas foram pequenas, com volumes sub-institucionais.

Fechamento de Startups

Um número triste é o de fechamento de companhias. Usando dados da Carta como referência, 543 startups fecharam até o terceiro trimestre de 2023. Isso é mais que as 467 do ano passado inteiro. De novo a tendência continua negativa, dado que o último trimestre viu um recorde de empresas fechando, ou seja, o volume de fechamento de empresas esta acelerando.

Fonte: Carta

 

Nem toda empresa usa a Carta e a sua base de dados cresce a cada mês, mas isso dá uma boa noção da tendência.

Das empresas que fecharam, metade tinha investimento, a outra metade não. Esses dados também nos mostram o quanto o “Vale da Morte da Série B” é real, dado que das empresas que tinham captado investimento e fecharam, 90% fecharam antes de terem captado uma Série B.

Joseph Stalin é creditado com a frase: “uma morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística”. Vamos analisar alguns destes casos:

A Zume Pizza, uma startup que captou US$445 milhões de investidores para automatizar a produção de pizza usando robôs, foi uma das grandes falências do ano. No Brasil a Voltz, startup de motos elétricas, está preparando sua recuperação judicial, com uma dívida de R$335 milhões, de acordo com notícia. Nem mesmo o setor de IA, tão festejado pelos investidores, escapou, a Olive AI faliu de ter sido avaliada em mais de US$4bi e ter >1.400 colaboradores. Por fim o WeWork pediu recuperação judicial. De acordo com a demonstração de resultados do Softbank, a empresa liderada por Masayoshi Son perdeu US$14bi na companhia.

Quebra do SVB

O Vale do Silício quase passou por um apocalipse com a quebra do SVB, banco das startups e fundos de tecnologia. Dias depois houve a venda do First Republic, o segundo banco mais utilizado pelo ecossistema empreendedor. Por ser uma peça fundamental da engrenagem de financiamento, o SVB gerou um impacto nos negócios, mas principalmente no psicológico dos stakeholders. Risco operacional é fácil de desconsiderar, pois quase nunca acontece, mas quando ocorre é uma catástrofe.

Fundos Menores

Não são apenas as empresas que sentiram a falta de recursos, os fundos de investimento também enfrentam um cenário mais adverso. Até o final de Setembro, os fundos de Venture Capital tinham captado apenas US$42bi, menos de um quarto dos US$172bi captados em 2022. Os motivos são diversos:

Os principais LPs, como são chamadas as instituições que investem em fundos, como fundos de pensão, entraram em 2023 com uma alocação à classe de Venture Capital maior do que tinham estabelecido em suas políticas. É o chamado “Efeito Denominador”. Quando o mercado público cai, a alocação em ativos privados cresce percentualmente simplesmente pelo fato desses ativos não terem mudado de valor. Isso foi acentuado por uma crescente alocação em venture capital nos últimos anos. Os LPs viram os fundos aumentarem de tamanho e frequência de captação. Animados com os excelentes resultados (no papel) + falta de melhores alternativas de investimento + uma provável dose de FOMO, continuaram investindo. De 2007 até 2021, o capital investido por LPs em fundos de VC globalmente aumentou de US$34bi por ano para US$142bi. A oferta também aumentou, apenas nos Estados Unidos, o número de fundos saiu de 1.619 para 5.338 durante o mesmo período.

A resposta dos fundos tem sido racional:

  1. Diminuir a meta de captação: várias grandes gestoras, como a TCV, calibraram o tamanho de seus fundos dado o menor apetite dos clientes. Em alguns casos, os investidores captaram apenas 25% do esperado.

  2. Cortar custos: o Greycroft, um dos fundos mais respeitados do Vale, depois de captar menos do que esperava, demitiu 25% do time de investimentos.

  3. Investir mais devagar: com menos capital que o planejado, os fundos estão mais cautelosos em fazer novos investimentos.

  4. Mudar a estratégia: o YCombinator decidiu fechar o seu fundo dedicado a empresas mais maduras, num esforço de aumentar o foco. Em paralelo, a YC também diminuiu o número de empresas investidas em 50% em 2023.

A Disputa Geopolítica afetando Tecnologia

A globalização e o livre comércio estão quase mortos”. Esta frase foi dita no final de 2022 por Morris Chang, fundador da TSMC, a maior fabricante de chips semicondutores. Se em 2022 a polarização de Estados Unidos e China no mundo de tecnologia ficou clara, em 2023 ela se tornou um tema central.

Começando pelos Fundos de Venture Capital. Em 2023 vimos muitas gestoras de investimentos do Vale do Silício fazerem o spin-off do time que cobria a China em empresas separadas. Paralelamente, estes fundos começaram também a vender participações em startups chinesas. Seja por pressão de governos, sócios ou clientes, a verdade é que o ecossistema empreendedor americano e chinês estão se separando.

De início eu acredito que quem perde mais é a China. Por mais que os fundos focados nesse país possam ter uma boa performance, a cadeia de financiamento de tecnologia ainda é muito americana. Por isso quero dizer que os LPs, os principais fundos, os prestadores de serviços (ex: escritórios de advocacia, bancos) são desse país. Ao serem cortado dessa rede, as startups e fundos chineses sofrem.

Paralelamente, os Estados Unidos vem usando sua vantagem na área de semicondutores de última geração, peça fundamental para Inteligência Artificial. Alguns meses atrás o Presidente americano proibiu a venda destes para clientes chineses.

Além disso, também vemos pressão dos reguladores americanos sobre empresas como Bytedance, devido a coleta de dados de seus cidadãos. Anos atrás o Presidente Trump já havia pressionado para a Bytedance vendesse o TikTok, seu aplicativo de maior sucesso no mercado americano.

A mídia vem chamando essa nova realidade de “Guerra Tecnológica”, não sei se conseguimos prever todas as ramificações desses movimentos, mas venho me debruçando sobre esse tema e quando tiver conclusões, compartilho com vocês.

O Mundo é Lindo, se você é um dos Magníficos

Um leitor poderia dizer: “Poxa Edu, você está sendo muito negativo. Dá uma olhada no S&P 500, c.20% no ano. O Nasdaq então, nem se fala, +35%, ambos perto da máxima histórica…

É verdade que os mercados estão indo bem. O que temos que entender é porque isso esta acontecendo.

Atualmente 7 empresas de tecnologia, apelidadas de “As 7 Magníficas”, representam 30% do valor de mercado do índice.

Estas 7 empresas vêm tendo uma performance extraordinária este ano nas bolsas:

  1. Apple: +52%

  2. Microsoft: +57%

  3. Alphabet: +53%

  4. Nvidia: +233%

  5. Amazon: +71%

  6. Meta: +171%

  7. Tesla: +117%

PS: Durante 2024 vou escrever sobre todas essas empresas em detalhe 😉

Por que essas estão indo bem?

Primeiro são empresas de ótima qualidade e líderes em seus mercados, peças fundamentais da infraestrutura digital do mundo.

Adicionalmente todas estas empresas tem grandes projetos em Inteligência Artificial, o principal tema de investimentos neste ano. Investimentos tanto de fundos quanto de empresas que querem ter projetos nessa área. O mercado reconhece que com Smartphone e Nuvem, foi gerado mais valor para os incumbentes do que para as startups.

É verdade que uma empresa como a Uber foi de zero para US$100bi, mas como isso se compara com a Apple, que multiplicou por 3, criando mais de US$2 trilhões de dólares de valor? Com IA, os investidores esperam que a mesma coisa aconteça. Além do que, é difícil ter acesso ao próximo Uber, mas comprar Apple qualquer um consegue. Em especial, IA parece precisar de muito mais capital, o que favorece os incumbentes.

As Sete Magníficas também tiveram excelente performance, seja com crescimento acelerando (ex: Nvidia), ou melhoria operacional e financeira (ex: Meta) nos últimos 18 meses. Por fim, houve um “Fly to Quality”, em que num mundo incerto, é melhor ser acionista das grandes e melhores empresas.

Os índices que possuem estas empresas, como S&P 500 e Nasdaq vêm performando bem…exatamente por causa dessas empresas.

Se pegarmos uma versão do índice S&P 500 em que cada empresa equivale a 0,2% do valor, ou seja, todas as empresas têm peso igual, seja a maior ou a menor do índice, a valorização em 2023 seria de apenas 3.9% versus o S&P 500 normal com c.20%. Isso quer dizer que a forte performance se deve majoritariamente à contribuição das 7 Magníficas.

Silver Lining

A expressão em inglês “Silver Lining”, quer dizer a linha brilhante em volta de uma nuvem escura, mas o significado é de “ver o lado bom das coisas”.

Eu decidi dedicar minha carreira ao setor de tecnologia. Acredito que Tecnologia vai ficar muito maior nas próximas décadas, em especial nos próximos 20 anos. O que estamos passando agora é apenas um rearranjo de expectativas devido ao aumento dos juros e do custo do dinheiro. Não afeta o longo prazo. É um soluço.

Estou muito animado com Inteligência Artificial. Robótica vai trazer a eficiência computacional para o mundo físico, como o vídeo abaixo nos mostra. Com a Tecnologia Nuclear, teremos energia mais limpa e abundante. Em paralelo, os estudos de longevidade nos farão viver mais e melhor. Como nossos antepassados fizeram, estamos caminhando para ir aonde nenhuma pessoa jamais foi, com a conquista do espaço. Esse mundo nos dará inúmeras oportunidades para construir e investir.

Meu otimismo com o mundo é apenas contrabalanceado com minhas preocupações com o Brasil. Decidi voltar a morar aqui no início de 2021 pois quero ajudar a fazer a diferença. Se não estudarmos, empreendermos, trabalharmos e investirmos mais em tecnologia, vamos crescer mais lento e nos frustrarmos com um mundo que anda mais rápido, mas em que ficamos mais pra trás. Precisamos de mais Nubanks, iFoods, MercadoLivres…

É por isso que escrevo o bsb e ano que vem virão novas iniciativas. Precisamos acelerar e ir muito mais rápido!


Citação

Fred Rogers, conhecido como Mr.Rogers, é uma instituição norte-americana. Seu programa, “A Vizinhança de Mr.Rogers”, foi ao ar de 1968 até 2001. O público alvo eram crianças de 3 a 6 anos, mas pela longevidade e carisma de seu apresentador, tornou-se um ícone cultural. A persona do Mr. Rogers é de uma pessoa “do bem”, justa, simpática e sempre pronta a ensinar. Tom Hanks interpretou Mr.Rogers recentemente num filme.

Depois de um artigo pesado como o de hoje, quero terminar com uma frase do Mr. Rogers:

Minha mãe costumava me dizer sempre que houvesse alguma catastrofe na televisão, procure pelas pessoas que estão ajudando. Não importa a situação, você sempre vai encontrar pessoas que estão ajudando. Ao ver estas pessoas, você redescobre a esperança, não importa quão dificil esteja a situação”.


Grande abraço,

Edu

DISCLAIMER: essa newsletter não é recomendação de investimentos. Seu propósito é puramente de entretenimento e não constitui aconselhamento financeiro ou solicitação para comprar ou vender qualquer ativo. Faça a sua própria pesquisa. Todas as opiniões e visões são pessoais do próprio autor e não constituem a visão institucional de nenhuma empresa da qual ele seja sócio, colaborador ou investidor.