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Boa leitura! Edu


Resumo: se você quer saber o que está acontecendo em crypto, é preciso ter um perfil no Twitter, usar o Telegram, Discord, conhecer os países com regulação mais avançada no tema.

Toda indústria adota ferramentas, melhores práticas e uma certa conduta. Por exemplo, no mercado financeiro brasileiro, a conversa imediata se dá pelo Whatsapp, a mensagem oficial por e-mail, as informações de mercado estão na Bloomberg, as notícias e os balanços no Valor Econômico, o “furo” no Brazil Journal e as piadas internas no Instagram (ex: Tio Ricco, Faria Lima Elevator).

No caso de blockchain, a dinâmica é a mesma, a diferença é que são outras ferramentas. Sendo assim, se você quiser saber o onde crypto acontece, seguem algumas sugestões:

1) Twitter: de longe a principal plataforma de comunicação da indústria. Twitter é tão relevante que existem empresas que buscam filtrar os tweets e tentar extrair alguma informação sobre adoção de um protocolo, na tentativa de prever movimentos de mercado.

Mas por que o Twitter? O primeiro motivo é histórico. Desde o seu início, o ele se tornou a plataforma preferida para empreendedores, operadores e investidores da Web2 para expor seus pensamentos, visões e as vezes discutir uns com os outros. À medida que estes profissionais vão se convertendo a web3, o Twitter, com seu efeito de rede já estabelecido, tem uma vantagem sobre as outras plataformas.

O segundo é a funcionalidade. Twitter é uma ótima ferramenta para espalhar notícias rapidamente e obter viralidade. Em um mercado de alta volatilidade, pouco regulação, que funciona 24/7, a mensagem de 140 caracteres muitas vezes funciona melhor que o e-mail com link e longas explicações. Às vezes a melhor forma de explicar algo é através de um meme.

O terceiro é intencionalidade. Ao ver o tamanho da oportunidade de se tornar a plataforma de comunicação para uma indústria de ~$2 trilhões de dólares de valor, o a empresa foi proativa em colocar funcionalidades específicas: é possível dar gorjetas aos perfis da plataforma usando bitcoin e utilizar NFTs como fotos de perfis, checando sua propriedade.

Alguns perfis que vale a pena seguir:

Vitalik Buterin (@VitalikButerin): co-fundador do Ethereum; Changpeng Zhao (@cz_binance): fundador da Binance, Chris Dixon (@cdixon): general partner da a16z Crypto; Katie Haun (@katie_haun): general partner da Haun Ventures; Ryan Selkis (@twobitidiot): fundador da Mesari.  Estes são apenas alguns poucos nomes para começar, talvez esse seja tema de um artigo próprio, pois um bom newsfeed é uma vantagem competitiva nessa indústria.

Você vai no Twitter para saber o que está acontecendo no mundo crypto.

2) Telegram: em muitas métricas, o Telegram é superior ao Whatsapp. A pergunta então é, por que “todo mundo” usa Whatsapp? A resposta é que isso não é verdade. O aplicativo tem dominância nas regiões em que atingiu efeito de rede, como América Latina, Europa e Índia. Nos EUA e China, por exemplo, ele não é muito utilizado. Várias funcionalidades mais recentes do Whatsapp, como envio de voz, vídeo, aumento do limite de pessoas nos grupos, vieram do Telegram. O aplicativo é um dos que mais cresce no mundo, com mais de 600 milhões de usuários.

Telegram é popular na comunidade crypto pelos seguintes motivos:

– A empresa se financiou via uma Initial-Coin-Offering: diferente da maioria das empresas de tecnologia, que busca investimentos através de emissões de ações, o Telegram captou recursos através da emissão de tokens no blockchain. Em 2018 a empresa captou $1.7 Bilhões de dólares, com participação de fundos famosos como Sequoia Capital e Benchmark. Esse episódio consolidou a imagem do Telegram como amigável a crypto e a empresa desenvolveu expertise na tecnologia.

– Segurança e Confidencialidade: o Telegram conseguiu conquistar a fama de ser um aplicativo com mais segurança. Apesar de existir um debate se isso é realmente verdade, tendo em vista as diversas melhorias do Whatsapp neste tema, esta é a reputação do aplicativo.

– Funcionalidades: Chats, Grupos, Canais, Áudio, Vídeo, o Telegram possui diversas funções, no entanto a mais útil e que na minha opinião explica o seu sucesso na comunidade crypto é que é mais fácil trabalhar no desktop usando o Telegram do que o Whatsapp. No dia a dia, isso vai criando uma vantagem.

– Não é do Facebook: poucas empresas representam Web2 e controle de informações e regras do que o Facebook. Isso traz uma grande desvantagem no universo de Web3, que busca alternativas independentes.

Você usa o Telegram para conversar com seus contatos e participar de grupos de interesse.

3) Discord: este é um aplicativo gratuito de voz e chat, inicialmente criado para a indústria de games e desenvolvedores, mas que devido as suas características únicas, ganhou muita popularidade e se tornou o principal lugar em que as comunidades crypto se encontram. Veja que o tema de comunidade é central a crypto. O valor de um token depende de quantas pessoas estão utilizando-o, seja como usuário ou desenvolvedor. Criar um sentimento de comunidade, em que adoção se dá apenas não apenas pela coordenação de uma uma entidade central, mas sim por diferentes pessoas, de forma decentralizada, é um conceito fundamental para entender a tecnologia blockchain.

No Discord é possível criar algo chamado de servidor, que é algo parecido a um grupo de Whatsapp, mas com tamanho ilimitado e focado em apenas um assunto, que pode ser, por exemplo, um protocolo. É através do servidor que a maioria dos protocolos anuncia novidades. Se no Twitter você anuncia para mundo, no Discord você anuncia para as pessoas que proativamente se interessaram no projeto sendo desenvolvido.

Dentro dos servidores é possível criar canais sobre sub-temas. Então imagine que entrei no servidor do Flow, um protocolo focado em NFTs. Eu posso entrar no canal específico sobre trading, depois no canal sobre NBA Top Shots, um dos principais projetos construídos no Flow e por fim no Governança, onde são discutidos os principais temas do protocolo.

O acesso a servidores e canais pode ser controlado. Por exemplo, para entrar no Discord da “Friends with Benefits”, uma DAO sobre a qual vou escrever no futuro, é preciso ser 1) aprovado pela comunidade e 2) comprar uma certa quantidade de tokens que serão verificados quanto você entrar no servidor.

A proximidade de crypto e games, somado a diferentes funcionalidades e a presença de um público inicial mais técnico, fizeram do Discord uma das plataformas mais relevantes do universo blockchain e onde acredito que as discussões mais importantes acontecem.

Você usa o Discord para participar da construção de protocolos e viver o seu dia a dia.

4) Países com (alguma) regulação

Outra curiosidade da indústria blockchain está na localização das empresas. Vemos muitos projetos baseados em países como Singapura, Hong Kong, Suiça, Portugal, Bahamas, Gibraltar, Chipre dentre outros. Apesar de vários destes terem um histórico em tecnologia, é desproporcional sua participação em projetos na blockchain.

O preconceito faz com que muitas pessoas acreditem que o motivo disso é simplesmente fiscal, dado que vários destes países possuem de fato alíquotas mais baixas. No entanto, existe uma outra explicação. De forma geral, as pessoas não querem operar com insegurança jurídica. Os principais países do mundo não possuem legislação focada em blockchains. Isso cria um problema aos investidores, empreendedores e operadores. Como investir ou começar um negócio que deveria (e vai) ser regulado, mas no seu país de origem não existe licença ou regras? A solução é mover a sede da empresa para um país que já possui alguma regulação, montar a empresa lá e seguir as suas regras, de forma a criar uma boa vontade junto ao regulador do país de origem e se preparar para a inevitável regulação.

Além de saber onde Crypto acontece, existe um vocabulário, referências, mitos e outras características da cultura desta nova e já enorme indústria, mas isso deixamos para outro post.

Grande abraço,

Edu