Oi pessoal, tudo bem? O texto de hoje é uma resposta a um pedido recorrente:

Como conseguir um emprego e/ou empreender em crypto/web3?

Para a maioria das pessoas, o seu capital humano é maior que o financeiro, ou seja, o fluxo de caixa a ser criado pela sua capacidade de trabalho é maior do que o seu patrimônio atual e retorno potencial. Sendo assim, para ampliar o impacto do bsb, precisamos que mais leitores venham a empreender e trabalhar com blockchain no Brasil, construindo essa nova indústria e atingindo independência financeira através do seu trabalho.

Vamos lá!


Resumo: a indústria blockchain funciona como uma comunidade, com fortes valores e apaixonado pelos conceitos que a norteiam. Estudar, praticar, se juntar a uma DAO, ler o bsb são todas formas de entrar neste fascinante mundo.

A pegada da indústria

Sempre que entramos numa nova indústria, é importante entender sua cultura. Cultura pra mim são os hábitos que são aceitos, mas não estão escritos em nenhum lugar. É a “pegada”, “jeito”, “modus operandi” de um grupo de pessoas e instituições. Por exemplo, no mercado financeiro brasileiro, concentrado em São Paulo, existe uma certa forma de agir, falar, se comportar, a ponto de virar motivo de humor.

Eu penso em Crypto/Web3 como um movimento cultural. Isso faz com que seja uma indústria com um senso de comunidade muito forte, mas que exige das pessoas que querem entrar uma curiosidade e paixão muito acima da média.

A expressão “nativo em crypto” (crypto-native) significa uma pessoa que investiu em blockchains antes de qualquer outro ativo e/ou utiliza tokens como parte do seu dia a dia. Se você não é crypto-native, estimo que uns 75% dos leitores do bsb não sejam, não tem problema. Basta ter curiosidade, dedicação e um senso de aventura para começar sua jornada. Trabalhar com crypto implica abandonar o Linkedin e a seriedade do terno ou a camisetinha colorida de startup (que pra mim são a mesma coisa, um uniforme) em favor do Twitter, Telegram, Discord, humor, memes, hackathons e todas as esquisitices que fazem a vida interessante. 😅

Entenda os Fundamentos

Bom, para trabalhar com Blockchains, primeiro é preciso entende-las. Existem uma série de fontes, no entanto, da mesma forma que a tecnologia é descentralizada, assim também é o conhecimento. O a16z tem uma série de bons conteúdos. Eu particularmente gosto de assistir vídeos, o Whiteboard Crypto e Finematics são ótimas fontes, mas veja qual funciona melhor para você. Ouvi feedback mistos sobre os cursos online das universidades americanas, então fica aqui o aviso antes de gastar R$20 mil num curso “top”.

Pratique

A forma como um currículo é avaliado em crypto é fundamentalmente diferente de outras indústrias. Aqui importa menos a sua faculdade e anos de trabalho tradicional. Por outro lado, conta muito você ter experiência utilizando os protocolos e projetos. Ser uma pessoa que adotou um protocolo antes dele se tornar popular pode contar mais do que um trabalho com pedigree. Praticar significa desde fazer um investimento alavancado através de finanças descentralizadas, prover liquidez, colateralizar seus ativos e empresta-los, yield farming, comprar NFTs, se qualificar para um airdrop (quando um protocolo envia tokens para seus primeiros usuários), dentre outros.

Não se surpreenda se na entrevista venham perguntas como: “Quando você comprou seu primeiro token?”, “Qual o projeto mais legal de NFT hoje e por que?”, “já tentou otimizar yields em DeFi?”

Praticar vai te levar a construir seu “currículo” na blockchain, sua carteira pode ser verificada e seu histórico mostra o quanto você está familiarizado com os temas.

Inclusive, existem alguns projetos dedicados a te ajudar a construir um CV na blockchain. O RabbitHole possui uma série de tarefas, como fazer swap de tokens ou pegar um empréstimo num protocolo, funcionando como uma aula pratica em finanças descentralizadas (DeFi). Em troca, você ganha tokens da RabbitHole que podem ser trocados por NFTs, que funcionam como certificações dos cursos completados.

Um aplicativo interessante é o Degenscore, que dá uma nota para a sua “performance” trabalhando com blockchains.

No caso de carreiras mais técnicas, a melhor forma é buscar cursos especializados. A principal linguagem de programação é o Solidity (faremos um post sobre ela), que é utilizada na rede Ethereum.

Leia o bsb

Bom, mas você já está aqui, então bom trabalho 👍🏻!

Se junte a uma DAO

Uma das coisas mais legais da indústria é que você pode começar nela sem se comprometer de forma integral. É possível contribuir com algumas simples tarefas, ser remunerados em tokens, entender a dinâmica do trabalho e depois decidir se esta indústria é para você. Trabalhar numa DAO é uma das formas de fazer isso.

DAOs são Organizações Autônomas Decentralizadas. Pense numa organização (empresa, ONG, Governo), construída e gerida na blockchain ao invés de contratos jurídicos tradicionais, temos contratos inteligentes escritos na blockchain regindo suas regras. Existem DAOs com foco em Investimento, NFTs, Clubes Sociais e diferentes propósitos. Um exemplo é a ConstitutionDAO, uma DAO criada com o único proposito de reunir capital o suficiente para comprar uma cópia original da Constituição dos Estados Unidos que viria a leilão.

Também é possível trabalhar em várias DAOs. Pela minha experiencia, é possível contribuir bem com duas a três DAOs, mais que isso a qualidade do trabalho cai. Sugiro otimizar pela qualidade ao invés da quantidade. A comunidade blockchain é pequena e sua reputação vai te seguir.

Existem inclusives algumas DAOs criadas por brasileiros, como a FingerprintsDAO, DuxDAO, BAYZ, dentre outras.

Pergunta: quem toparia participar de uma bsbDAO?

Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmente

A indústria paga bem? Sim. Por que? Como tudo na vida, oferta e demanda. Faltam profissionais especializados. Quanto bem? Veja aqui -> web3.career

Uma boa e uma “má” noticia: a boa é que esta indústria opera de forma remota, então receber em USDC na sua carteira no Brasil para trabalhar em um protocolo global é algo muito factível. Eu acho isso ótimo, especialmente à medida que o Brasil continua com seus desafios econômicos e políticos. A “má” noticia: esta indústria é feita de missionários, pessoas que acreditam nos valores da descentralização, então se você quer apenas ganhar bem, escolha outra opção ou fique apenas especulando. Aqui me referindo a quem esta trabalhando e empreendendo, no lado de investimento temos muito especuladores.

Um outro elemento diferente é que em vários casos parte da remuneração não se dá através de opções de ações da companhia, mas de tokens. Normalmente estes vêm com um período de vesting semelhante as opções, mas as implicações tributárias são diferentes e vale a pena se consultar com um bom advogado. Da mesma forma a volatilidade dos tokens exige preparação financeira.

Onde encontrar as vagas

Aqui seguem alguns sites que tem boas vagas. Outra opção é ir no site de fundos como a16z, Polychain e Paradigm que anunciam vagas para as empresas de seu portfolio.

https://cryptocurrencyjobs.co, https://cryptojobslist.com, https://crypto.jobs

Escolhendo um caminho a seguir

O processo de escolher se juntar a um empreendimento deveria ser mais diligente que o de escolher um investimento. Afinal de contas, salvo raras exceções, podemos investir em mais de uma coisa na vida, enquanto é difícil ter mais de um trabalho. Meu modelo mental para isso busca maximizar o retorno, não apenas financeiro, mas sobre diversas métricas que me permitem crescer e estar posicionado para maiores oportunidades adiante.

Ao escolher um projeto em blockchain, algumas das mesmas características que buscamos em empresas de tecnologia continuam valendo: pedigree, referencias e entrevistas. Você precisa decidir baseado em aspectos qualitativos qual oportunidade tem o melhor fit com você. No entanto, em blockchains existe uma enorme quantidade de dados disponíveis, na própria blockchain, de forma que uma análise quantitativa se torna possível.

Por exemplo: você está entrevistando para um protocolo e quer saber quantas carteiras interagem com ele? Simples, basta procurar o protocolo no Dune Analytics. Quer ver o volume transacionado em uma exchange? Basta ir na Coingecko.

Vejam o quanto isso é especial e remove uma incerteza sobre a performance de uma companhia. Você pode contra argumentar “ah, mas eu falei com o fundador de uma empresa Web2 que estou entrevistando e ele me garantiu que a empresa cresce 5x por ano”. Se tem uma coisa que aprendi fazendo venture capital é que infelizmente um percentual alto dos empreendedores não são transparentes sobre a performance de suas empresas.

Quando sabemos as métricas do projeto ao qual estamos nos juntando, duas coisas acontecem: a dificuldade para um fundador recrutar diminui e a confiança de um candidato aumenta. Ganha-Ganha.

Uma palavra de aviso…

Me lembro de colegas de faculdade que escolheram carreiras baseadas em interesses, sem perceber que estavam se colocando em posições que talvez não quisessem. Por exemplo, um engenheiro de mineração, petróleo ou materiais está inevitavelmente se posicionando em uma carreira tão volátil quanto os ciclos de commodities. Blockchain também tem uma série de riscos, que destaco aqui:

  • Volatilidade: as variações de preço dos tokens levam a mudanças de planos de organizações. Ter uma reserva financeira e flexibilidade é fundamental para sobreviver. O principal risco que vejo é que quem trabalha com blockchains tende a gostar de investir em tokens, de forma que fica super concentrado em termos de capital humano e financeiro. Diversificar é importante para que você não se coloque numa situação em que tenha que seja forçado a fazer algo que não queira.
  • Imaturidade: este setor é jovem e muitos empreendedores e executivos são jovens e ainda pouco experientes. Soma-se a isso o fato que ganharam dinheiro cedo. Isso leva a uma série de erros, decisões tomadas sem embasamento e mudanças no rumo das companhias e projetos. Pra ficar de exemplo, um amigo estava contratando o country manager de uma corretora internacional entrando no Brasil e anunciando 50 vagas no linkedin. No dia seguinte ele foi demitido e os planos de entrar no país foram colocados na geladeira.
  • Mais que um trabalho, menos que uma vida: o sentimento de comunidade é uma via de mão dupla. Se por um lado traz uma cumplicidade, por outro exige que as pessoas se dediquem a viver o setor, seja no Twitter, Discord, trabalho, círculos de amigos e assim por diante. Não é para qualquer um.
  • Risco existencial: eu não acredito que isso vá acontecer, mas esse experimento chamado blockchain pode simplesmente não dar certo. Se por um lado isso trará perdas a muitos, por outro a experiencia de trabalhar em um setor tão dinâmico quanto crypto/web3 é algo que poucos terão acesso. Mas como diria meu pai “experiencia é o que você ganha quando não ganhou o que queria  

Abs, Edu

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