Oi pessoal, tudo bem? Semana passada não teve artigo, mas compenso nas próximas.

Temos uma mudança de formato. A partir de hoje teremos 3 versões do artigo:

1) Twitter post, que será postada na plataforma com até 140 caracteres;

2) Versão Nutella: resumo de 3-5 pontos – substituindo a sessão de resumo;

3) Versão Raiz: o texto completo;

Sendo assim, vamos ao primeiro texto no novo formato: O ABC do NFT. Este é o primeiro de uma série de textos sobre este tema.


🤗 Twitter: NFTs tem o potencial de se tornarem a porta de entrada de toda mídia digital, impactando inúmeras industrias como Arte, Gaming, Música, Marketing, dentre outras.

👍🏻 Nutella:

  • A maneira mais simples de se pensar sobre NFTs são como arquivos que representam propriedade de algo que pode ou não estar numa blockchain. NFTs não podem ser copiados, editados, apagados ou manipulados
  • Ativos digitais não-fungíveis existem há muitos anos, mas os consumidores não são seus reais proprietários
  • Padrões como o ERC-721 permitem que os NFTs existam
  • As blockchains adicionam uma série de propriedades para os ativos digitais não-fungiveis, transformando a relação do usuário e do desenvolvedor com estes ativos
  • NFTs ao se tornarem a porta de entrada de toda mídia digital podem ter impactos profundos em múltiplas industrias, como Arte, Gaming, Música, Marketing, Colecionáveis, Finanças, dentre outras. O que estas industrias tem em comum? São grandes, influentes e cheias de ineficiências

👊🏻 Raiz:  

O termo NFT é um dos mais citados, mas também menos compreendidos quando se fala e escreve sobre blockchains. Acredito que isso acontece por três razoes: 1) Proximidade 2) Nomenclatura e 3) Aplicações

O fato de NFTs terem usos mais diretos aos consumidores, faz com seja tópico mais recorrente de conversas do que Finanças Descentralizadas, criando uma proximidade. No entanto, a nomenclatura, apesar de ser fácil de falar, na minha opinião mais complica que ajuda. Por fim, existem inúmeras aplicações que também geram confusões. Sendo assim, vou tentar explicar NFTs de uma forma completa.

O que significa NFT?  

Traduzindo para o português, NFTs (Non-Fungible Tokens) significa tokens não-fungíveis. Agora, o que significa ser fungível? Para algo ser fungível, este precisa ser “passível de ser substituído por outra coisa de mesma espécie, qualidade, quantidade e valor”. Eu acho que isso complica demais as coisas. Vamos fazer um exercício e pensar nas coisas das quais somos donos. A cadeira que você esta sentado, seu celular, computador, coisas que pode comprar e vender no MercadoLivre. Todas caem na categoria de coisas não-fungíveis. Na verdade, a maioria das coisas do mundo são não-fungíveis. O que é diferente é ser fungível. Isso gera muita confusão nas pessoas.

Então o que é fungível? Papel moeda é um ótimo exemplo. Dez reais é sempre dez reais, não importa qual a numeração da nota, ou onde está localizado, seja no cofre do banco ou na sua carteira. O fato que podemos trocar qualquer nota de dez reais por outra de dez (ou duas de cinco), faz com que papel moeda seja fungível.

Um elemento complicador é que fungibilidade é relativa e só se aplica quando comparamos várias coisas. Por exemplo, passagens de avião tem diferentes classes (primeira, executiva e econômica).  Cada passagem é fungível dentro da sua classe, mas você não é simples trocar uma passagem de primeira classe por de executiva. Fungibilidade também é subjetiva. Uma pessoa pode achar que sentar na janela vale muito mais que sentar no meio, de forma que lugares um do lado do outro não são fungíveis na visão de certas pessoas. Uma moeda rara de um centavo pode valer muito mais que seu valor de face na visão de um colecionador. E por que estou divagando nesse tema? Por que estas nuances são importantes quando começarmos incorporar blockchains na conversa.

Ativos Digitais

Antes de existir Bitcoin, já existiam moedas digitais. Pense nos pontos do seu programa de milhagem ou moedas de um videogame. No entanto estas moedas não são protegidas por criptografia, de forma que não são chamadas de criptomoedas.

De forma semelhante, existem diversos ativos digitais não-fungíveis. Por exemplo, domínios de sites, tickets para eventos, ativos em jogos (uma roupa especial para um personagem), perfis nas redes sociais são todos ativos digitais não fungíveis. As indústrias que gerenciam estes ativos são grandes. A venda de domínios nos Estados Unidos foi em torno de $6.5 bilhões de dólares em 2021. Um terço das receitas da Tencent, a maior empresa de tecnologia da China, com valor de mercado de $360 bilhões, vem de receitas de vendas em seus games. Só no primeiro trimestre desse ano o valor foi de ~$5 bilhões de dólares. O mercado de venda tickets online para eventos deve girar em torno de $60 bilhões de dólares em 2025.

O ponto aqui é, nós já temos muitos ativos digitais, fungíveis ou não, apenas não somos os reais donos deles.

Vamos dar um exemplo: eu sou nerd. Nos anos 2000 eu adorava colecionar DVDs de filmes como Star Wars e Senhor dos Anéis, com aqueles intermináveis making offs e cenas extras. Eu era dono da cópia física do DVD. Podia assistir em qualquer lugar, emprestar e vender para quem quisesse.

Atualmente eu compro filmes na Apple TV. Apesar de maior conveniência na experiencia de compra (não preciso de copia física), hoje pago um valor tão alto quanto, mas não posso assistir o filme em qualquer lugar. Eu preciso usar uma Apple TV e estar logado com o meu perfil. Não pode ser no perfil de qualquer pessoa. Eu não posso emprestar ou vender o filme. O que isso quer dizer é que eu paguei pelo filme, mas não o comprei de verdade. Eu comprei o direito de usar esse ativo num contexto muito especifico: apenas no meu login e num aparelho especifico. Isso não é o mesmo nível de propriedade que tinha nos meus DVDs dos anos 2000. É algo pior…

É exatamente aqui que entram as blockchains. Elas provem uma camada de coordenação para os ativos digitais, trazendo de volta o conceito de propriedade e gestão. As blockchains adicionam uma série de propriedades para os ativos digitais não-fungiveis, transformando a relação do usuário e do desenvolvedor com estes ativos. Onde existe transformação, existe troca no formato de criação e captura de valor. Menos poder para as plataformas como Apple TV, mais poder para os criadores e consumidores de conteúdo.

As características que as blockchains trazem aos NFTs são de (1) Padronização, (2) Interoperabilidade, (3) Liquidez, (4) Imutabilidade, (5) Programabilidade

  • Padronização: a maioria dos arquivos digitais de fotos são criados no formato JPEG ou PNG. Computadores conversam entre si através do protocolo HTTP. Imagens aparecem na internet utilizando o formato de arquivo HTML / CSS. Hoje ativos digitais como domínios de internet ou tickets para eventos não possuem padrão. Uma espada num jogo de videogame e um domínio de internet são construídos de forma completamente diferente. Através da utilização de tokens não-fungíveis em blockchains publicas, desenvolvedores podem construir padrões comuns e reutilizáveis. Isso quer dizer regras para propriedade, transferência e acesso. A partir destes, outros padrões virão. As blockchains permitem a criação de diversos novos primitivos através do qual é possível construir novas aplicações
  • Interoperabilidade: a padronização permite que NFTs possam se mover por diversos ecossistemas. Quando um desenvolvedor lança um novo projeto NFT, este se torna visível em dezenas de provedores de carteiras, podem ser vendidos em vários marketplaces e podem ser visíveis em mundos virtuais criados por diferentes empresas e projetos
  • Liquidez: se existe um padrão e interoperabilidade, existe a possibilidade destes ativos serem líquidos. Isso quer dizer venda, empréstimo, securitização, em qualquer moeda e até mesmo fazendo o tradicional “escambo”. Um exemplo disso é no mundo de jogos, em que hoje temos todas as transações sendo feitas entre jogadores e a dona do jogo. Com NFTs é possível transações entre jogadores, o que estimula comércio, que no extremo é uma economia dentro do jogo, o que levar forte engajamento
  • Imutabilidade: desenvolvedores podem criar contratos inteligentes que colocam limites no número de NFTs de um certo tipo que podem ser emitidos. Também podem colocar no contrato garantias que certos elementos deste NFT não vão mudar. Para que isso é interessante? Arte é um exemplo, em que garantir que você possui a única copia é importante na atribuição de valor
  • Programabilidade: e se você tivesse uma peça de arte que ao ser combinada com outra daria origem a uma terceira, mais rara ainda? É possível fazer de tudo com código e NFTs permitem que o conceito de propriedade possa ser manipulado por desenvolvedores

Entrando na parte técnica

A maior parte dos leitores do bsb são do mercado financeiro, apesar da porcentagem de pessoas com perfil técnico e/ou que trabalha em startups vem crescendo a cada sai. Sendo assim, peço um pouco de paciência com os próximos parágrafos.

Na blockchain Ethereum, de longe a mais usada para NFTs, ERC quer Ethereum Request for Comments” ou “Solicitação de Comentários do Ethereum”, em português. Tratam-se de documentos técnicos que descrevem os padrões de programação na Ethereum e estabelecem convenções que facilitam a interação entre os aplicativos descentralizados construídos nesta blockchain. Se você pesquisar no Google, bem provável que apareçam muitos links sobre o ERC-20. Este é um padrão de desenvolvimento para criação de tokens fungíveis na blockchain Ethereum, como moedas digitais, stablecoins, tokens de governança e tokens de segurança. Um exemplo deste token é o Uniswap, um aplicativo descentralizado utilizado para trading. O número “20” é o identificador dessa documentação. A maioria dos tokens que usam a rede Ethereum são criados nesse modelo. No entanto como estamos falando de tokens não-fungiveis, este padrão não serve.

O ERC-721 é um padrão gratuito, aberto, que descreve como construir tokens não-fungiveis na blockchain do Ethereum. Este padrão define uma série de mínimos parâmetros para que um contrato inteligente precisa para implementar este tipo de token. O padrão foi escrito na linguagem Solidity. Se tiver curiosidade, pode checar mais detalhes aqui: http://erc721.org/

O ERC-721 foi criado pela equipe da Axiom Zen, para o projeto CryptoKitties. Este era um projeto de NFTs em que as pessoas podiam comprar gatinhos cuja propriedade estava cadastrada na blockchain do Ethereum e criar novos gatinhos a partir dos que possuíam. Parece bobo? Sim, mas pensem que testar uma nova tecnologia num jogo de baixo risco é mais fácil do que em algo em que milhões estão envolvidos em cada transação. Isso é algo que as pessoas erram muito ao analisar blockchains:

Se o primeiro uso parece mais um brinquedo, não quer dizer que a tecnologia não tenha um uso real. NFTs de gatinhos um dia, daqui a alguns anos podemos ter uma solução que torne os cartórios brasileiros irrelevantes.

O básico do ERC-721 é relativamente simples: um método para checar quem é dono do NFT e um método para move-los. Existem diversos outros detalhes, alguns deles muito importantes para criar negócios baseados em NFTs, mas não vale a pena compartilha-los aqui.

A equipe do CryptoKitties, depois de quase quebrar a rede Ethereum com tanta demanda pelos amados gatinhos, chegou a conclusão que fazia mais sentido criar uma nova blockchain do zero, que fosse criada especialmente para NFTs. Eles montaram uma nova empresa, chamada Dapper Labs e criaram a blockchain Flow. Foi uma enorme honra ter tido a oportunidade de investir na Dapper Labs, um investimento que acabou dando muito certo.

Aplicações dos NFTs

Voltando ao exemplo inicial da Apple TV. Como que NFTs podem mudar a atual dinâmica de distribuição de mídia?

Num futuro próximo, quem sabe eu possa comprar um NFT que tenha em si o direito a uma cópia do novo filme do Star Wars, de preferência um filme bom, por que nos últimos a Disney tem errado a mão. Este NFT fica na minha carteira crypto, que conecto com a minha televisão (de qualquer marca) em casa, liberando para que eu assista o filme quando quiser. Caso eu esteja de bom humor, posso emprestar meu NFT a algum amigo que queira assisti-lo ao filme e daqui alguns anos fazer a venda do NFT num marketplace, pegar algum dinheiro residual e comprar um novo filme. Isso melhora a minha experiência, melhora a experiência do criador do filme, que não precisa pagar os 30% de pedágio toda vez que alguém compra um filme dela na Apple TV.

A partir deste exemplo, podemos criar um modelo mental para aplicação de NFTs. Blockchains podem se tornar a porta de entrada de todas as mídias digitais. Por que colocar uma foto no Instagram e ceder todo o direito dele ao Facebook/Meta, se posso atrelar a foto o direito de propriedade num NFT? Lembrando que sim, você cede seu direito ao Facebook quando posta uma foto, ou nunca leu os Termos de Serviço? São aqueles contratos com mil letrinhas pequenas que ficam no nosso caminho antes de iniciar um novo serviço?

Sendo assim, NFTs ao se tornarem a porta de entrada de toda mídia digital podem ter impactos profundos em múltiplas industrias, como Arte, Gaming, Música, Marketing, Colecionáveis, Finanças, Contratos, dentre outros. O que estas industrias tem em comum? São grandes, influentes e cheias de ineficiências. A oportunidade é enorme.

Nas próximas semanas vou escrever sobre a história dos NFTs, aprofundar nos usos e projetos interessantes.

Vamos juntos?

PS: estou com uma meta de levar o bsb até 10.000 até o final do ano. Gostou desse artigo? Quer me ajudar? Então compartilhe e envie a seus amigos e colegas!

Grande abraço,

Edu

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